quarta-feira, 10 de agosto de 2011

2666, de Roberto Bolaño


“Ler é como pensar, como rezar, como conversar com um amigo, como expor suas ideias, como ouvir as ideias dos outros, como ouvir música (sim, sim), como contemplar uma paisagem, como dar um passeio pela praia”

Roberto Bolaño queria que fossem cinco livros, acabou sendo um livro dividido em cinco partes, totalizando 850 páginas na sua versão brasileira. Talvez ainda poucas por tudo que a obra propõe e nos apresenta (há quem diga que realmente é uma obra inacabada, já que póstuma).

Tem crimes, cidades, amores, assassinatos, assassinadas, assassinos, policiais, videntes, jornalistas, escritores, críticos, editores, leitores, livros, detetives, políticos, guerras, loucura e inocência. Fala do passado, da segunda guerra mundial na Alemanha, dos anos 90 numa cidade do México (e um pouco antes e um pouco depois), nos anos 2000 pela Europa, no entanto, é de uma brutalidade contemporânea, e seu título aponta para uma data futura. Mas, no final das contas, creio eu, seja, acima de tudo, sobre literatura. Talvez, violência e literatura. Uma devoção pelos livros e um detalhamento de crimes, guiados pela busca por um autor recluso e por relatos de assassinatos de mulheres.

“A leitura é prazer e alegria de estar vivo ou tristeza de estar vivo, e, sobretudo, é conhecimento de perguntas. A escrita, em compensação, costuma ser vazio”

É um tipo de livro que marca, que impregna. Tanto que até hoje, meses depois da leitura, volta e meia me pego pensando em suas passagens. Não se passa ileso por 2666, ainda mais se você for dado a amar livros. Foi exatamente as partes que a literatura era protagonista ou uma figurante de luxo que mais me agradavam. Não que o peso dos crimes não tenham também deixado suas marcas. É essa capacidade de caminhar por assuntos diferentes, às vezes dispares, às vezes complementares, que torna o livro tão ímpar. Passei o parágrafo anterior tentando enquadrá-lo numa sinopse em vão, não cabe. Ele é um livro vivo, em constante movimento. Tenho a impressão que 2666 é um desses casos de livro pra ser sentido mais do que definido.

Numa determinada parte do livro, um personagem diz que escrever é inútil, que só vale a pena se o escritor estiver disposto a escrever uma obra prima. Ainda bem que Bolaño estava.

3 comentários:

Unknown disse...

Não sei se já comentei, mas está na minha lista dos tantos que pretendo ler...

Unknown disse...

Na minha também. Talvez esse eu reserve para quando tiver férias. Então 2666 se refere ao ano de 2666? Eu já pensei em te perguntar isso e me esqueci...

Samara disse...

É o que se deduz, Ferdi, mas não é algo que fique muito claro.