quarta-feira, 7 de setembro de 2011

No Buraco, de Tony Bellotto



Publicado em Setembro do ano passado, No Buraco, o último romance do músico e escritor Tony Bellotto relata a história de um guitarrista de uma banda de rock dos anos 80 que só conseguiu emplacar um único sucesso. Quem narra sua história, é o próprio guitarrista, Teo Zanquis, divertido e frustrado. E, com isso, o guitarrista dos Titãs consegue despertar no leitor a curiosidade sobre o que pode ou não fazer parte também da sua história. Isto é, será tudo mera ficção? A dúvida tortura fãs, o enredo seduz todo leitor que se interesse por aventuras, reflexões e até mesmo um pouco de mistério.

O livro fez com que eu entrasse em crise. Envolver um leitor a esse ponto talvez seja o maior anseio de um escritor e também, vale dizer, sua maior dificuldade. Fácil é produzir algo que alguém simplesmente goste ou não, entretanto, algo que fique martelando lá dentro quando tudo acaba, acredito que seja um pouco mais complicado. Isso prova o quanto Bellotto cresceu no decorrer de suas obras, explorando, cada vez mais, o íntimo de seus personagens e fazendo com que nós, leitores, nos interessemos por eles da mesma forma, ou até mais (e esse é meu caso) que pelo desenrolar da trama em si. 

No Buraco é, em minha opinião, uma grande interpretação de um ditado que me incomoda muito, “nadou, nadou e morreu na praia”. Teo Zanquis parece ter tentado de tudo e fracassado em tudo. Embora seja uma ótima companhia e, aparentemente, excelente com as mulheres, é um sujeito que não só se considera um músico decadente ( e é), mas transformou seu espírito nisso quando, até certo ponto de sua vida, era o contrário. Talvez porque agora ele tenha tempo para pensar, e refletir demais é mesmo angustiante. Por conhecer muito bem alguém extremamente parecido com Zanquis, me identifiquei facilmente e talvez isso tenha contribuído o bastante para a minha avaliação de No Buraco, confesso.

A narrativa apurada, sedutora e bem humorada de Tony Bellotto torna a leitura leve e gera em nós, leitores e leitoras, uma ânsia por terminá-la, consumi-la, o quanto antes. No entanto, não é este o ponto culminante de No Buraco, mas a maneira como Tony aborda a concepção do tempo em cada momento da vida de seu personagem que ora parece julgar tê-lo de sobra, acreditando poder fazer tudo e mais um pouco, e ora se vê lutando contra o tempo. O modo como Zanquis se confronta com o tempo é absolutamente realista e, por isso mesmo, interessante. E foi, sem dúvidas, a principal razão da minha crise existencial pós-leitura. E é por todas essas razões que indico a leitura de No Buraco, um romance divertido e ao mesmo tempo intrigante.

ps: essa resenha foi publicada inicialmente no blog Entretenimente !

2 comentários:

Samara disse...

Gosto dessa pegada musical do livro, dessa jornada sexo, drogas e rock'n'roll, numa visão melancólica e nostálgica. E a escrita do nosso paraninfo se mostrou mais rica e madura, embora os livros do Bellini e o BR ainda sejam os meus preferidos do Bellotto.

Unknown disse...

Também tive essa sensação do livro ficar martelando na minha cabeça durante dias. O que, como você disse, é mérito total do autor. E, dia desses, eu estava cantalando Trevas de Luz aqui...rs
Bjos!!