quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O Búfalo da Noite, de Guillermo Arriaga



"Nessa quinta-feira vesti a camisa preta, não para desafiar olhares curiosos,
 mas para recordar que nunca é possível extirpar o passado,
 por mais que se queira; que ele permanece como uma queimadura antiga
 a nos arder de vez em quando, e que é melhor viver com ele do que contra ele."

Guillermo Arriaga adora caçar. Adora também repetir e evidenciar isso por aí. E eu adoro tirar conclusões precipitadas.  Tal informação sobre o autor me fez deduzir que a obra em questão era sobre caças e isso fez com que eu não me interessasse pela leitura. Contudo, estava enganada. Trata-se de um mergulho no ser humano.

O Búfalo da Noite tem como protagonista um jovem suicida, Gregório, que permanece mais vivo do que quando o era de fato na vida de seu melhor amigo, Manuel, e de Tânia, namorada de ambos, embora oficialmente do primeiro. O triângulo, como na maioria dos casos, acaba tomando proporções que abalam o controle emocional dos personagens. Entretanto,  o diferencial da obra está nos conflitos que começam após o suicídio de Gregório, ou seja, quando teoricamente tudo deveria estar resolvido e com direito a um final feliz.

Carregado de sentimentos e atitudes intensas e extremamente íntimas, o livro não possui uma narrativa arrastada – característica de muitas obras que se dedicam ao ser humano e suas loucuras -. Pelo contrário, é ágil, nos amarra através da curiosidade que é despertada a cada instante. É curiosamente profundo e, por vezes, incômodo e reflexivo.

Arriaga possui um estilo de contar histórias que é de forma não-linear, o que me agrada muito, pois ficamos sempre tentados a entender o que a princípio parece caótico, inexplicável. O antes e o depois se confundem, levando-nos a compreender a trama sem a certeza de que realmente estamos compreendendo-a, o que julgo apaixonante num autor.  Trabalhos como os roteiros da trilogia cinematográfica Amores Brutos, 21 Gramas, BabelOs três enterros de Melquiades Estrada ou o livro Um doce Aroma de Morte são grandes exemplos -embora eu não goste muito de Babel. Não sabemos o que ele nos reserva para o final e se reserva alguma surpresa, porque a questão está sempre ali, no dia a dia, nas atitudes que imploram para serem revistas quando já não se pode alterar o curso das coisas.

O Búfalo da Noite contém todas essas características. Entendemos os acontecimentos gradativamente, por meio de flashbacks e, ao mesmo tempo, surgem outras dúvidas acerca da história e também da vida em si.

É um livro que nos mostra o quanto é tênue a linha que separa a lucidez da loucura, o quanto estamos próximos da segunda e podemos ser seduzidos, envolvidos por ela. É sobre a dimensão, intensidade e incompreensão da morte, dos relacionamentos, moral e sentimentos que o envolvem. É o tipo de livro que após ser lido, gosta de revisitar nossos pensamentos mais algumas vezes.

3 comentários:

Samara disse...

Fiquei ainda mais interessada, parece uma grande e tocante história e eu já adoro o trabalho dele como roteirista.

Unknown disse...

Então se você gosta, dificilmente não vai se envolver Sam! beijo

Unknown disse...

Engraçado que quando você comentou do livro com a gente, eu não associei o nome ao autor. Agora fiquei mais interessada ainda pela história que vc descreveu e porque estou interessada em ler livros que originalmente tenham sido escritos em espanhol. Muito bom, Lah!